06/10/2011

MARIA, A DOIDA - Lucinda Prado

Quem foi que te disse que aqui tem pouso
Vai-te daqui com seus molambos encardidos
Quem sabe seu Benedito se apieda de ti
Te empresta o paiol para uma noite dormir.

Maria se vai com seus teres em trouxa
Gingando seu corpo, gordo, sujo, imundo!
Cai aqui, se levanta pra cair, mais suja ficou!
Olhos de rosto que o tempo deu um tapa, coitada.

Mãe, pai ninguém sabe quem são, que importa?
Diz nascida de uma noite de tormenta, agonia.
Não teve amor, logo não sabe do que se aventa
Coitada da Maria, tão gorda, tão suja, tão só.

Janelas e portas se fecham quando aponta Maria,
Menino corre pra dentro que lá vem Maria
Maria da Glória, do Carmo, de Fátima?
Quem é Maria? Ninguém sabe não.

Seu Benedito não acolhe pra noite de chuva
Maria de não sei de quê, só sabem que é louca, doída?
A chuva engrossa, o céu desmorona, trovão,
Na cabeça de Maria a trouxa se rompe, estrondos.

Coitada da Maria carrega dolente... Expia,
Pesadamente a saga de suas Marias...
A visão se turva ,o corpo fraqueja ,geme
Seu cão late sentido, dorido, urgente.

Na beira da estrada por chuva lavada, cavada
Encontram Maria amontoada na vala
Vala da vida, seu leito de morte
Morre Maria! Coitada, sozinha!
Quem foi que morreu?
Ninguém não... Foi apenas Maria,
Maria? Maria? O que é Maria?


Foto: google -